
O número de motociclistas mortos em acidentes em São Paulo cresceu tanto no ano passado que quebrou a sequência de redução no número total de vítimas do trânsito na capital, que vinha desde 2008. O Relatório Anual de Acidentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostra aumento em 7,1% nas mortes de motoqueiros, crescimento maior até do que o de motos em circulação, que foi de 6%. Por isso, a Prefeitura já estuda nova campanha educativa.
As mortes não estão relacionadas à imprudência de motoboys. Segundo o relatório, dos 512 ocupantes de motos mortos no ano passado, só 44 eram motofretistas - ou 8% do total. A superintendente de Segurança da CET, Nancy Schneider, estima que somente 10% dessa frota é usada por motoboys. Segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), havia 928 mil motos em circulação no Município em 2011. Ajudantes, estudantes e vendedores, juntos, somaram 112 mortes, ou um quinto de todas as vítimas.
Ao todo, 1.365 pessoas morreram em acidentes de trânsito na capital em 2011. Em 2010, haviam sido 1.357. Os motoqueiros mortos representaram 37,5% do total de vítimas - em 2010, haviam sido 478. O relatório da CET é feito com base em informações da Polícia Civil e do Instituto Médico-Legal (IML). Cerca de 60% das mortes ocorreram até 24 horas após o acidente - 325 (ou 23%) foram na hora.
Respostas. A categoria "mortes de motociclistas" já havia sido o único item do relatório da CET a aumentar de 2009 para 2010 - o porcentual havia sido até maior, 11%, mas não tinha sido suficiente para fazer o total de mortes nos acidentes de trânsito da cidade crescer na comparação com o ano anterior.
Nancy Schneider, da CET, afirma que a Prefeitura está estudando uma campanha educativa voltada especificamente para o convívio entre motociclistas e motoristas, nos moldes da Campanha de Proteção ao Pedestre, iniciada em maio do ano passado. "Ainda estamos estudando, não posso adiantar os detalhes", diz Nancy.
Ela afirma ainda que a CET tem investido no aumento da fiscalização para tentar inverter esses números - atribuídos, segundo ela, à falta de educação dos motociclistas e, principalmente, ao aumento da frota de motocicletas em operação. "Alugamos seis radares de mão para fiscalizar motocicletas e estamos instalando 19 radares voltados apenas para fiscalizar a velocidade delas", argumenta. Outra ação é a entrega, no segundo semestre, de um centro de educação para motociclistas que será construído na zona leste em parceria com as empresas fabricantes de motocicletas - promessa já feita neste ano. Mas o comparecimento às aulas seria voluntário.
Atropelamentos caem menos que o esperado
Redução foi de 2,1%, mas CET espera diminuir em 50% o número de vítimas até o fim deste ano, com campanha de proteção
A Campanha de Proteção ao Pedestre, iniciada pela Prefeitura em maio do ano passado, deu frutos. Mas não nos níveis que a administração municipal pretendia. Ao todo, houve redução de 2,1% nas mortes de pedestres na cidade, o que mantém a rota de redução nesse quesito. A promessa, que a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) diz manter, é diminuir em até 50% o total até o fim do ano.
No total, 617 pessoas morreram atropeladas em São Paulo em 2011. Ainda é a principal causa de morte relacionada ao trânsito. Em 2010, haviam sido 630 mortes. De 2009 para 2010, sem a campanha publicitária da Prefeitura, a redução nas mortes de pedestres foi de 6,1%, índice maior do que no ano passado, com a campanha.
Do total de pedestres mortos, 73% foram homens e 23% eram aposentados. Levando em conta todos as mortes no trânsito da cidade, houve apenas 53 casos em que pessoas com mais de 80 anos foram mortas - e 50 delas morreram atropeladas.
Nancy Schneider, da CET, afirma que as ações educativas começaram quase no meio do ano, e só na região central. Por isso, ressalta que os resultados foram positivos - mas ela promete que as ações serão intensificadas nas vias campeãs em mortes por atropelamento.
Vias. O destaque entre os locais que mais tiveram mortes em 2011 é a Avenida Jacu-Pêssego, na zona leste. Lá, o número cresceu de 10 para 25 mortes - 150%. O motivo é o novo uso da via: serve como acesso do Rodoanel à Marginal do Tietê. A CET diz que instalou passarelas ali para evitar que o número de mortes crescesse, mas não explicou por que cresceram tanto. / B.R.
Lei seca reduziu total de vítimas em 41% em 3 anos
Embora alguns acidentes em 2011 tenham passado a impressão de que a mistura álcool e direção estivesse causando mais mortes, esse perfil de vítima também diminuiu no ano passado, segundo a CET. Mas 40% de todas as mortes desse tipo ocorreram em acidentes classificados como "choque": quando o veículo fica desgovernado e termina em um acidente.
Nancy Schneider, que coordenou a divulgação dos dados ontem, diz que a lei seca tem, sim, ajudado a reduzir as mortes de motoristas, ocupantes de carro e até de pedestres. De 2008, quando a lei passou a valer, até agora, a redução foi de 41% - para comparar, o aumento de motociclistas mortos foi de 48%. "É uma série de fatores. Há também as ações da Prefeitura, como a política de redução de velocidade nas vias. Mas as blitze estão aí, acontecendo, e isso com certeza tem um impacto (positivo)", afirma Nancy.
O consultor de trânsito Sergio Ejzenberg, por outro lado, dá mais peso à redução da velocidade nas vias para explicar essa redução. "Brinco dizendo que o motorista caindo de bêbado, dirigindo a 5 km/h, não mata ninguém. Se ele estiver a 120 km/h, saia de perto." / B.R.
Fonte: O Estado de S. Paulo